Welcome to the fantasy

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

#Second - ( My Abyss )



“Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."



- Jovem Mestre, hora de acordar.


O mordomo, como sempre pontual, entrara em seu quarto. Acordá-lo no horário fazia parte de seu trabalho.


- Já despertei há muito tempo, Carter.


Levantou-se sem dificuldades. Calmamente colocou os pés para fora da cama, e erguera-se primorosamente. Seu mordomo já havia preparado a água da banheira, assim como o café da manhã, e a carruagem. Como sempre, muito prestativo. De tal forma sombria, muitos duvidavam de sua humanidade. Mal sabiam eles que...


- Algo importante para hoje?


Carter sorrira lindamente, mas desta vez não até os olhos.


- A costureira foi assassinada. A polícia suspeita de ursos, embora eles tampouco deixassem o corpo sem sangue algum.


- E não deixam. São criaturas irracionais. Logo, supondo que fossem eles, o sangue não seria o único ausente.


O mordomo nada disse. Seu mestre suspirou perante o silêncio.


- Que horas será o enterro?


- Não vai comparecer a cerimônia religiosa, Jovem Mestre?


- Entediante.


- Bem, o enterro será às dez horas.


- Acredito que minha carruagem já esteja preparada...


- Obviamente. Com sua licença...


Já havia posto a mão na maçaneta dourada, quando Simas intervém.


- Acredito também que a roupa que encomendei na falecida esteja feita...


O mordomo sorriu. E dessa vez, com malícia.


- Obviamente.


E assim, ele se foi.


Simas se aprontara em poucos minutos. Quando desceu, as empregadas suspiraram por conta de sua beleza avassaladora. Eram vinte e três mais precisamente. O número aumentava a medida que fazia aniversário.


- Bom dia, Jovem Mestre!


Saudaram-no em uníssono. Ele não respondeu como sempre, mas assentiu com a cabeça.


Estava sem fome alguma, e somente tomou um suco de laranja. Contra sua vontade, claro. Mas Carter se preocupava com sua saúde, e apenas aceitou a bebida para não magoá-lo.


A cidade não estava muito movimentada. A população se concentrava no cemitério. Muitos abriram caminho, quando ele passou em direção ao caixão. Arremessará uma rosa branca, disse algumas poucas palavras, e se foi.


Simas era bastante respeitado em Londres, apesar de muitos o temerem. Mas isso nem sempre foi assim.


Quando pequenino Simas foi um menino calmo, carinhoso e sorridente. Sempre dedicado aos estudos; esforçava-se bastante para captar tudo o que lhe ensinavam com relação as contas matemáticas, fazia isso como preparação. Afinal, ele era, e ainda é o herdeiro das empresas Anohiro.


Mas aos 11 anos de idade, uma tragédia aconteceu em sua família. Anne e Melani Anohiro - mãe e irmã respectivamente - foram sequestradas e encontradas mortas nos arredores da mansão Anohiro. Por quem ou o porquê é desconhecido. Desde então, ele passou a enxergar "coisas" não vistas por mais ninguém. Nunca se apaixonou e acredita arduamente que jamais sofrerá de tal repugnante sentimento. Seu pai encontra-se sobe cuidados médicos intensivos, pois sofre de um grau avançado de leucemia. Atualmente encontra-se num dos quartos da mansão.


Desde o dia ao que se refere como maldita data , em que perdeu sua mãe e irmã, Simas fechou-se para com os outros. Não demonstra sentimentos nos negócios, como também em sua vida pessoal. Por conta da doença, o seu pai já não tem controle sobre os membros do corpo.


Talvez esse seu afastamento, tenha causado a visão temerosa da população.


Apesar de tudo, Simas frequenta orfanatos e caridades. Os poucos que verdadeiramente o conheceram, foram capazes de enxergar o seu bom coração. Embora não existam mais testemunhas disto, uma vez que todos os próximos faleceram gradativamente. Com exceção de seu mordomo pessoal, Lee Jo Carter, que apesar de sua aparência jovial, já passou dos quarenta anos... Ele não possui nenhuma relação íntima com alguém.


Faltava quinze para o meio-dia, o sol intenso era a única coisa que o mantia desperto. Estava cansado, embora tenha tido uma longa noite sem sonhos.


- Vamos para casa, Carter.


- Obviamente, Jovem Mestre.
Entraram na carruagem, e retornaram para a mansão. As empregadas posicionadas na entrada, o saudaram novamente. Subira as escadas sem cerimônia, parecia que desmaiaria a qualquer momento.


Ao se deparar com a escuridão de seu quarto, sentiu um enjoo. Abriu a cortina, deixando a luz invadir o cômodo.


- Bem melhor...


Tirara os sapatos Oxford, e o sobretudo; deitou-se e logo adormeceu. Dias cansativos estavam por vir... Uma pena, que não eram de seu conhecimento.







{ Continues... }

#First ( My Abyss )



“Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta...”


“Vermelho”

Um liquido avermelhado pingava no chão. 
“Vermelho... Quente”

Um cheiro adocicado invadira o ambiente. As paredes estavam manchadas, o mesmo com as camas ali presentes. O tempo não passava, as presas se aprofundavam mais e mais. A neve atravessava a janela, e mudava de cor assim que o fazia.
“Saboreio...”

Lágrimas manchavam o rosto da vítima, as bochechas já perdiam o tom rosado. O sofrimento era tal que fora a primeira vez a qual aquela camponesa, se vira desejando morrer. Podia sentir a chegada dela, a mãe do seu destino. 

A morte.



- Qual o problema? Onde estão os seus gritos? A sua agonia? Torne as coisas mais emocionantes para mim...
Era um caçador. Não, não era o termo certo. Matava, desmembrava, comia, satisfazia sua sede... Não tinha coração, ou arrependimento que o fizesse sentir a mínima gota de remorço. Era um monstro.


- Hmm...


Agora podia senti-la. A razão pela qual atacara aquela mulher. Não era um vampiro, de forma alguma. Ele era um demônio, e como tal, era desprovido de qualquer pureza. Bebia sangue, mas isso não o satisfazia. Este ser em especial caracteriza-se por sua dramaticidade. Era fabuloso ver os humanos encontrarem os corpos vazios. O desespero dos vivos, a agonia... Era um frenesi para ele. Mas o seu verdadeiro alimento, a única coisa que o mantêm longe da insanidade, forte, e resistente... Era a coisa mais pura que se podia encontrar. A única virtude presente em todos os humanos, e qualquer outro ser vivo que não fosse demônio possuía... A alma.


- Tão imaculada... Ah! O que temos aqui... A alma de uma virgem... Fabuloso, realmente fabuloso.


Sua boca já não se encontrava mais na artéria do pescoço dela. Ah, não. Agora ele a beijava vorazmente... Ou pelo menos, assim pensaria quem estava de fora. Jamais imaginariam o que ele fazia. Os humanos não podiam ver as próprias almas, quanto mais a de seus semelhantes. Ele a sugava desejoso... Era tão doce e incólume...

- Droga! O tempo já está acabando!


Assim ele se fora, deixando-a inerte no chão. Não se preocuparia em esconder os vestígios, ninguém jamais descobriria quem cometera o atentado. Ele riria se não fosse a tamanha ira e pressa que tinha. Mas que merda... Era o amanhecer. Dali a poucos minutos, o sol se reergueria novamente. Ele não temia a claridade, apenas não seria ele mesmo quando ela viesse.


O vento rebatia em sua dura pele, ela era macia, mas muito resistente. Amava a sensação de poder, até mesmo o vento não lhe feria. Pulava os telhados, e logo se deparou com o bosque. Um sorriso sombrio invadira seu rosto. Ele voava, não literalmente, mas a velocidade que corria e saltava nos galhos, era como se o fizesse. Já podia vê-la agora. Um som agudo invadira o bosque, esta era sua risada.


Uma ave negra deslizava ao seu lado. Mais especificamente, um corvo maior do que o normal.


-"Ó tu que das noturnas plagas; vens, embora a cabeça nua tragas; sem topete, não és ave medrosa; dize os teus nomes senhoriais; Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"


E o Corvo disse:


- "Nunca mais."


- Então você conheceu Allan Poe?


A ave não lhe respondeu, mas ele sabia a resposta. As árvores chegaram ao final. Viu-se em frente a um lago maculado, mas não parou. Ao invez disso, deu salto ao chegar na beirada, e o atravessou sem problemas. O corvo já não estava mais ao seu lado. O mesmo som agudo de antes, passava por seus lábios.


Como sempre, pontual.






{ Continues... }

Matando para amar



Jamais imaginei que sentiria tal sentimento. Algo puro e desnorteante, mas ao mesmo tempo, algo impóssivel de ser alcançado.

Numa bela noite de luar estava caçando nas arredondezas da Noruega, estava incrivelmente deserto, talvez os humanos tenham sentindo uma presença perigosa por perto e tenham se refugiado em suas casas, na esperança de se protegerem.

Um lampejo de luz veio em direção ao bosque, e rapidamente, me posicionei para atacar. Um garoto alto e loiro estava caminhando pela trilha com uma garota menor ao seu lado, provavelmente sua irmã. Os dois pararam de repente e ajoelharam-se na grama diante do que parecia uma lápide humilde.Lágrimas escorriam dos olhos da garotinha, o rapaz ao seu lado a abraçou e olhou para cima.

Nesse instante, observei que ele possuia olhos castanhos avermelhados. Não consegui me mexer, aquele garoto fraco com um aroma incrivelmente sedutor, havia-me feito paralizar e ficar nervosa, mas ao mesmo tempo feliz e completa. Desde aquele momento percebi que aquele garoto havia tocado numa parte dentro de mim que nunca pensei que existira.

Os dias se passavam, e eu me via cada vez mais encantada pelo garoto, decobri que ele se chamava Doug Willian, sua irmãzinha Muriel Willian. Doug era um jovem do último ano da Academia Longbotton para garotos, sua rotina consistia em cursinhos, cólegio, academia, aula de futsal, livraria e mercado. Uma vez ou outra saia com os amigos para uma noite na balada, não costumava ingerir bebidas alcóolicas ou fumar como os outros de sua idade.

Numa sexta á noite, Doug e mais quatro amigos estavam voltando de uma festa na mansão dos Monsieur Anthony, Jasper estava no volante numa velocidade agressiva, provavelmente bêbado, quando começou a chover fortemente, uma neblina começou a envolver a estrada, e alguns segundos depois, o carro derrapou numa curva e caiu colina abaixo.

Sabia que não deveria, mas meu corpo se movimentou automaticamente se movendo o mais rápido que pode até o carro. Arranquei a porta lateral esquerda do passageiro e puxei Doug desacordado, aterrisei numa pedra, e no mesmo instante o carro caiu no mar.

Doug estava com um ferimento na cabeça que sangrava, dificultando ainda mais o meu auto controle. Entrei numa caverna próxima e rasguei a parte de baixo de meu vestido. Tentei estancar o ferimento do menino. Senti uma queimação em meu pescoço e parei de respirar. Sem dúvida nenhuma era o melhor cheiro que já sentira, mas não ousaria machucar aquele garoto indefeso. Olhando mais de perto, sua fisionomia apontava que estava entre os dezessete e vinte anos.

Pressentia que não resistiria por muito mais tempo e tomei rapidamente uma decisão, se existisse uma vida depois dessa, ou não, eu teria de arriscar. Antes de poder sentir remorço, cravei meus caninos no pescoço de Doug. Fórmidavel e suculento eram eufemismo para o sabor, quando não restara muito mais do que umas gotas de sangue, peguei uma espada que sempre carregava comigo nas costas e atravessei-a entre nossos corações.

Nunca pensei em como morreria mas morrer com a pessoa que amo é muito mais do que merecia. Aos poucos perdi meus sentidos e cai em cima do meu amado. Só espero que se existisse uma outra vida, que nesta não possuise regras que dificultassem o entrossamento entre um vampiro e um humano.


Amor Sanguinário










- Pare... Por favor, eu não aguento mais... Eu faço qualquer coisa... É dinheiro?... Eu posso lhe dar...


John Wendell, o famoso milionário, implorava por sua vida.



- Não quero dinheiro, John.


Ainda segurando a adaga, a mulher fez um corte profundo em sua bochecha. Ao ver o sangue começar a escorrer, sentiu uma excitação que a fez lamber os lábios.


- Se sabe quem sou... Porque está fazendo isso comigo?... Quem lhe mandou?... Eu pago o dobro que lhe deram...


- Fique quieto, sim? Ninguém me mandou... Estou aqui por instinto.

- V-você é l-louca.


Hmm, então agora ele estava gaguejando... Não poderia ser melhor. Fez um corte no pescoço da vitima e lambeu. Delicioso...


- Sim, sou louca... Mas não como você pensa...


- A policia já deve está atrás de mim... Deixe-me ir...


Ele estava amarrado. Era incrível como todos a ameaçavam... Mesmo sem está em condições de fazerem isso.

Ela riu. 



-V-v-você está possuída! É-é isso...


Possuída? Talvez, mas não por quem ele imaginava. Ela era a morte em pessoa. Perfurou cuidadosamente na panturrilha e sentiu o seu orgasmo atingido enquanto ele gritava.


- E-e-eu imploro, p-por favor...


- Tenho um pedido a lhe fazer, sim?


Mesmo perplexo, ele pareceu não refletir sobre o que ela lhe falara.

- Qualquer coisa!


- Hmm, que bom! Você tem escolha, sabe? Mas eu ficaria realmente triste se você rejeitasse...

- Não irei! - Interrompeu-a convicto. Sabe-se Deus o que ela poderia fazer se recusasse.

- Perfeito! John Wendell... 

- Stuart.

- O quê?

- Chame-me de Stuart, sou conhecido assim quando o assunto é negócios e...

- Bom, não estamos negociando nada.

- Mas, como? Você disse...

- Eu não disse nada. Apenas quero um favor seu. E, você por boa vontade disse que o faria.


Então ela o mataria... Vadia! 

No mesmo instante sentiu uma dor latejante em seu estômago, ele gritou. Olhou para baixo e viu que ela havia enfiado a adaga em seu tronco... 

Maldita! Ela leu os seus pensamentos? Ela estava com um olhar raivoso que não demonstrara antes...


- Não leio pensamentos, se é isso que se passa em sua cabeça. Mas você é muito fácil de ler... É interessante... Deliciosamente interessante.


Ela tirou a lâmina e a lambeu.



- E o que está dentro de você... É provocador... Tão doce... E ao mesmo tempo amargo... É uma sensação horrível para quem está tendo o que é seu roubado, imagino.


Ele sentiu a cor lhe abandonar o rosto.


- Você é um demônio!


Ela riu mais uma vez.


- Você é engraçado, John... Mas não sou um demônio.


Não estava entendendo, nunca vira aquela mulher em sua vida...

- Q-quem é você?

- Nunca pensei nisso antes, mas certamente não sou uma vampira... Seus pensamentos são tão infantis...


Ele estava perdido...


- Quando eu o matar... Grite meu nome... Você saberá qual é...


Ela então o apunhalou no coração.

Ele não sabia... Ela o matara por amor...

...E era incapaz de sentir remorso. 



- Então nem você sabia meu nome... - Arrancou-lhe a adaga do corpo, dando um último vislumbre de seu amado, patira. Para onde iria? Nunca foi de conhecimento para ninguém, nem mesmo para si própria. Ela apenas ia e vinha, assim como a morte, não tinha um lar para o qual retornar. Talvez, você saiba um dia, mas não terá a oportunidade de me dizer...









• • •






Carentes uma zorra, essas crianças eram perigosas, maldito era aquele que duvidava disso e não o que enxergava a verdade.
Ela, a criança abandonada ainda pequena nas ruas, não era um ser - humano. Sua água vinha de bebedouros, seu alimento vinha das feiras semanais de frutas e verduras. E ela nem um pouco se satisfazia com tais coisas.

Perigosa. Sim, ela seria um dia, mas não hoje. Ainda era uma jovem em formação, poderia ter quatorze, dezesseis anos... Talvez fosse mais nova ou mais velha, nunca saberia.

      Ela não se encaixava naquele mundo capitalista, não possuía dinheiro, bens, nem sequer uma vida.
Ela apenas existia, sem saber como ou o porquê.
E aquela pessoa o protegera. Mesmo ela estando, na visão dos outros, sendo uma pessoa má.
John Wendell, mais tarde descobrira seu nome, o seu protetor. Ajudando-a, ele apenas cavou a própria cova. E tudo por um ato de caridade.
Em outra vida quem sabe, os dois poderiam conhecer-se de outra forma, talvez tivessem uma relação romântica, mas não nesta vida.
Ela, a garota sem nome, roubara e ele o protegera dizendo que não estava errada. Pagara o que ela pegou sem direitos, e ainda lhe dera um saco de doces.
Desde aquele dia desistira de pegar o que não era seu, ela se vingaria de todos. De roubar, passou a matar e alimentar-se do sangue e carne de suas vítimas. Passara a ser uma sanguinária desprovida de sentimentos. Matara os seus semelhantes, era uma ceifadora.

E desta forma percebera que ela tinha sim sentimentos, ela adorava o que fazia e amava aquele homem.
John Wendell, o coitado que roubou o seu coração, e sem saber, levou todas as coisas boa a que ela poderia ser capaz de torna-se um dia.
Ele, assim como todos os outros, odiava-a. Mesmo não sabendo quem ela era, o rumor de um serial killer na cidade o assustava, o irritava.
Mas ela o faria amá-la.
Amar uma pessoa é o mesmo que amar o que há de bom e ruim nela. Mesmo que as coisas boas sejam praticamente inexistentes.
Ela o mostraria o que era amar, mas não o suficiente para deixá-lo viver.

Amarga Solidão

Alguém sussurrava o seu nome... Mas quem? A voz era tão familiar, mas tão distante...

Uma brisa leve assoprava em seus ouvidos enquanto brincava com os seus cachos soltos... Engraçado, essas sensações eram tão familiares...

- Anne... 

Era um sonho novamente. O sonho que resolvera instalar-se em todas as noites desde aquele dia... Sim, desde aquele maldito dia, ela tivera esse sonho repetitivamente.

Mas esse sonho era diferente dos demais. Desta vez ela ouvia uma voz, aquela voz que um dia amara mais do que sua própria vida. A voz daquele que tanto almejava. Daquele que pretendia entregar-se por inteiro...

... Até aquele maldito dia.

- Anne Marie... 

Um arrepio percorreu-lhe por todo corpo. Como podia ser tão desprovida de criatividade? Disseram-lhe que os sonhos são desejos do subconsciente... E ela já não tinha mais desejo nenhum, nenhuma ambição, nenhuma expectativa nessa vida amarga. Nada além de tê-lo ao seu lado novamente.

Maldito dia.

- Anne Marie...

Irritou-se consigo mesma, como podia desistir de sua vida? Como podia ter se esquecido de todos que um dia amara? Como aquela jovem adolescente de personalidade forte sumira?

Como...?

- Anne Marie... ... Abra os olhos...

Ele estava morto. Sim, o primeiro - e com convicção o último - por quem partilhou seus sentimentos mais fortes... Por quem partilhou sua existência e ganhara motivos para temer a morte.

Maldito dia. 

Seu corpo doía. Estava frio demais. Ela estava congelando... Mas isso era errado, ela lembrava-se de ter fechado a janela antes de deitar... Estendeu a mão em busca do cobertor, mas nada encontrou.

Anne Marie...

Por quê? Por que de todas as pessoas neste mundo... Por que foi ela que perdeu o que mais amava? Por que Deus? Se você realmente existe e sente algum amor por teus filhos... Por que a fez sofrer tanto?

- Anne Marie... Querida... 

Era uma brincadeira de mau gosto. Uma peça que Deus estava pregando nela, ele queria vê-la despedaçar até o ultimo minuto... 

- Você não está sonhando... Acorde... 

Não estava sonhando? COMO NÃO ESTAVA SONHANDO? Ele estava morto. Vira-o ser enterrado sete palmos abaixo da terra.

Chega. Ela iria acordar. Mas desta vez, acordaria para a verdade. Torturava-se todas as vezes em que acordava, só em perceber, o quão dura era a realidade. A sua vida era uma mentira... Mas a sua morte não seria.

- Suzannah... Finalmente... Querida, não chore... Desculpe-me por deixá-la... Mas eu estou aqui novamente. Estou de volta para você.

Pare!

Isso era demais para ela. Já não bastavam meses de sofrimento naquela cama?

Não! Ele tinha que maltratá-la. Maldito seja Deus.

Suzannah caminhou decidida até a sua janela, não deixaria nenhum bilhete. Não havia mais a quem deixar. Ela finalmente percebia que era um estorvo para todos. Eles desistiram dela há muito tempo.

- Anne Marie...

Deu uma última olhada nas fotos em sua mesinha, sorrira. Os músculos do rosto doíam pelo esforço... Ao que seria o seu último ato... Ainda lembrava-se do seu tom de raiva quando ela fazia algo sem pensar... Ele se preocupada tanto com ela... Maldito dia!

Começara a chover, o céu chorava por aquela pobre garota que perdera o seu amor ainda nova. Mas ainda não era tarde de mais, ela não desistiria de seu amado, não amaria mais ninguém se não ele. 

E ela finalmente iria encontrá-lo novamente... 

...Afinal, suicidou-se.